Terapia EMDR: o que é, para que serve e como funciona?

Sara Paiva
Sara Paiva |  
Terapias |  26 setembro 2024 |  
11 min. de leitura
psicólogo realiza terapia EMDR com paciente em consultório

A Terapia EMDR (Eye Movement Desensitization and Reprocessing) é um método psicoterapêutico usado para aliviar o stress psicológico. Baseada na estimulação bilateral do cérebro (hemisférios esquerdo e direito), esta terapia tem ganhado espaço privilegiado no tratamento de eventos traumáticos.

Seguindo um protocolo de oito fases, a psicoterapia com EMDR foca nas diferentes componentes da memória traumática, ajudando o paciente a dessensibilizar e integrar a memória perturbadora. Assim, esta terapia faz com que o indivíduo reinterprete o problema, atribuindo-lhe um significado diferente.

Atualmente, o EMDR é considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um tratamento de primeira linha para casos de Perturbação de Stress Pós-Traumático (PTSD), como traumas resultantes de violência, abusos sexuais, desastres naturais, guerra, entre outros.

Além de tratamento para PTSD, o EMDR é aplicado, igualmente, na gestão de dor crónica, luto, depressão, fobias, perturbação de pânico, dependências e adições, entre outros casos em que o paciente necessite de recursos positivos para lidar com uma situação ou patologia.

Saiba mais sobre a Terapia EMDR neste artigo e não hesite em procurar ajuda profissional sempre que não consiga lidar com uma situação ou sentimento.

O que é Terapia EMDR?

A Terapia EMDR é uma forma de terapia breve, potente e direcionada para situações de trauma, especialmente aquelas com forte componente ansiosa, a qual consiste no reprocessamento e dessensibilização para as situações através do movimento dos olhos.

Sempre que vivemos situações que originam emoções intensas (tristeza, raiva, pânico, entre outras), o cérebro “congela” as memórias no hemisfério direito, por ser muito difícil processar os elementos dos acontecimentos. Muito embora não nos recordemos das situações na totalidade, podemos sofrer com o que o nosso inconsciente guardou.

Devido ao trauma sofrido, as pessoas têm comportamentos e reações que lhes causam mal-estar, mas não entendem porque os têm, nem por qual razão não conseguem parar de os repetir.

A partir da Terapia EMDR consegue desbloquear as memórias traumáticas, reprocessando-as, para que estas deixem de influenciar as suas atitudes, comportamentos e reações.

O EMDR combina vários métodos terapêuticos, entre os quais se destacam a exposição imaginativa, técnicas de autocontrolo e reestruturação cognitiva. Seguindo um protocolo específico de oito fases, o terapeuta modifica consoante as necessidades de cada paciente.

O tratamento inclui o uso do movimento alternado dos olhos, mas também pode ser alternado com o uso de toque e/ou sons, pois estimulam a capacidade de o cérebro resolver perturbações emocionais, assim como adotar compreensões adaptativas (similar ao que acontece na fase de sono REM).

Os principais objetivos deste método psicoterapêutico são:

  • Ajudar a resolver conflitos atuais, os quais resultaram de memórias traumáticas, por meio de promoção de compreensão intuitiva, afetos, reorganização cognitiva e resposta fisiológica;

  • Dessensibilizar os estímulos que estão por trás do desencadeamento dos sintomas ou mal-estar atual, sendo que estes são resultado de um condicionamento de segunda ordem;

  • Fazer a incorporação de atitudes, comportamentos e capacidades para melhorar sintomas.

A Terapia EMDR é eficaz e segura?

Este método psicoterapêutico tem sido objeto de estudos controlados no que respeita à sua utilização em Perturbações de Stress Pós-Traumático, principalmente no seu uso junto de veteranos de guerra (Vietname e Golfo, especialmente), vítimas de terramotos, furacões, acidentes viários, entre outros.

Esta terapia demonstrou ser mais rápida e eficiente no tratamento de sintomas relacionados com o trauma do que outras terapias, tendo sido já validado pela Sociedade Internacional para o Estudo do stress traumático.

É igualmente eficaz na resolução de outras formas de trauma e de comportamentos ansiosos, como:

  • Pensamentos intrusivos;

  • Dor crónica;

  • Fobias;

  • Perturbações emocionais (culpa, luto, depressão, raiva, medos, entre outras);

  • Pesadelos recorrentes/constantes;

  • Obesidade com compulsão para comer;

  • Adições químicas (álcool e tabaco, por exemplo);

  • Abuso sexual e psicológico;

  • Entre outros.

A quem se destina?

Não existe uma limitação para a Terapia EMDR. As crianças, por exemplo, respondem muito rápido ao processo, pois elas não têm uma rede de memórias complexa.

Se a terapia convencional não está a dar os resultados que esperava, se viveu um trauma muito grande, com sintomas dolorosos e memórias perturbadoras, o EMDR deve entrar na equação.

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Como funciona a Terapia EMDR?

A Terapia EMDR baseia-se na estimulação bilateral do cérebro (hemisférios direito e esquerdo), a partir de um protocolo de oito fases, focando nas diversas componentes da memória traumática, de forma que os hemisférios comuniquem de forma idêntica a quando sonhamos.

Da mesma forma que os acontecimentos e emoções são processados durante o sono REM, o EMDR utiliza essa estimulação bilateral do cérebro para simular o estágio de sono REM, reprocessando as memórias e as crenças negativas que o paciente tem associadas ao trauma.

O objetivo máximo é dessensibilizar e ressignificar o trauma. O EMDR atua, principalmente, a níveis neuropsicofisiológicos, reforçando a identidade e o desempenho por meio de emoções positivas. Recorrer a esta terapia não provoca amnésia ou o esquecimento de acontecimentos positivos, mesmo que estes estejam associados a memórias traumáticas.

Esta técnica está (ou deve estar) incluída numa psicoterapia em que o EMDR é a técnica de eleição.

A duração do tratamento varia muito conforme o problema a tratar. Por exemplo, o tratamento de Perturbação de Stress Pós-Traumático simples (como fobias simples de aranhas) pode demorar entre três a seis sessões. No entanto, o tratamento de traumas múltiplos pode demorar vários meses.

O uso deste método psicoterapêutico só é feito por profissionais de saúde mental licenciados pela Associação Internacional de EMDR.

Quais as fases da Terapia EMDR?

Como dissemos, este método psicoterapêutico consiste num protocolo de oito fases, tendo como base o modelo AIP (Adaptative Information Processing, em português: Processamento Adaptativo de Informação).

O profissional de saúde mental segue, portanto, um plano delineado, podendo ajustar mediante as necessidades particulares do paciente. Assim, seguem-se:

Fase 1

O terapeuta faz a recolha de informações importante sobre o paciente, tentando perceber qual a intensidade dos sintomas de PTSD, ansiedade, depressão, entre outros.

O principal objetivo, nesta fase, é conhecer o paciente, saber se existem experiências traumáticas e até que ponto estas podem estar na origem do mal-estar e desconforto sentido.

Fase 2

O psicólogo, ou psiquiatra, passa alguns exercícios simples, como os de respiração profunda e visualização de ambientes seguros para o paciente.

O objetivo destes exercícios é o de dar ao indivíduo ferramentas de controlo emocional, conquistando uma sensação de segurança e tranquilidade.

Fase 3

Nesta fase, o terapeuta define uma memória a ser alvo da Terapia EMDR. Esta memória é escolhida tendo como base as emoções, crenças e sensações com origem em uma imagem mental representante do trauma.

Fase 4

Aqui, o terapeuta orienta o indivíduo a pensar na memória selecionada na fase anterior. A ideia é apenas olhar para a situação e perceber o que acontece. Nesse momento, começa a estimulação bilateral do cérebro com a indução dos movimentos oculares.

O terapeuta pode interromper esta indução sempre que for necessário perceber o andamento do processamento da memória. É importante perceber se, durante o processo, vieram à mente outras sensações, pensamentos ou lembranças.

Quando o terapeuta finaliza a estimulação bilateral, ele pergunta ao paciente se sente, ou não, uma diminuição da intensidade da perturbação associada à memória trabalhada.

Repete-se todo o processo até que o paciente não demonstre reações intensas relacionadas ao trauma.

Fase 5

Neste momento o paciente já processou a experiência traumática. O terapeuta vai passar a trabalhar, então, o desenvolvimento de crenças de caráter positivo, orientando-o a ter pensamentos positivos sempre que pensar no trauma vivido, enquanto faz estimulação bilateral.

Durante esta fase, o paciente vai substituir uma autoimagem negativa por uma positiva.

Fase 6

Neste momento, o terapeuta usa a estimulação bilateral do cérebro para reprocessar sensações corporais desagradáveis que advenham do trauma.

Fase 7

Durante a fase 7, interrompe-se a terapia com os estímulos bilaterais. O psicólogo, ou psiquiatra, observa a estabilidade emocional do paciente após finalizar a Terapia EMDR.

É comum pedir que o paciente faça um diário dos seus pensamentos, sonhos e memórias, os quais vão ser analisados nas próximas sessões.

Fase 8

A última fase da Terapia EMDR consiste na avaliação dos processos de mudança que o paciente passou para ser documentada a evolução ao longo do tratamento.

Considera-se que a terapia teve sucesso ao verificar uma redução do desconforto emocional relacionado com o trauma.

Neste momento, o terapeuta também avalia se o paciente vai precisar de sessões adicionais para curar feridas relacionadas à experiência traumática.

A Terapia EMDR demonstrou ter excelentes resultados, especialmente no processamento de experiências traumáticas. Se está com dificuldades em lidar com uma memória (ou várias), se sente desconforto e mal-estar com os seus comportamentos e reações e não sabe de onde estes vêm, procure um profissional qualificado.

Sara Paiva
Socióloga de formação, Copywriter de paixão. Sou uma apaixonada por literatura (e pelas artes em geral), o que me levou a seguir uma carreira na área da escrita. Desenvolvo conteúdos para o Toma Conta com o objetivo de ajudar os utilizadores a obterem a melhor informação possível.

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Technical SEO, UX Writer e Copywriter. Adoro ler e escrever; não dispenso um bom livro e um bom filme. Sensível à forma como a Internet pode facilitar o nosso dia a dia, escrevo no Toma Conta para ajudar os leitores a obter informação fidedigna e atualizada sobre tarefas e serviços de apoio ao domicílio.

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Susana Valente

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Escrevo conteúdos para a web há mais de 20 anos como jornalista e copywriter. Adoro explorar montes e vales por esse país fora. Detesto fazer mudanças e adoro correr à beira-mar. Tenho veia de poeta, sou mãe e uma verdadeira mulher dos sete ofícios!

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