A doença coronária afeta milhões de pessoas em todo o mundo e, por ter uma elevada taxa de mortalidade e morbilidade, deve ser olhada com especial atenção. Por atingir as artérias coronárias, esta doença pode levar a enfartes do miocárdio ou anginas de peito, por exemplo.
Nos países desenvolvidos, a doença arterial coronariana (DAC) é a causa número um de morte, tanto para homens, como para mulheres, totalizando cerca de um terço dos óbitos. A taxa de mortalidade em homens brancos entre os 25 e 34 anos é de, aproximadamente, 1/10.000 e entre os 55 e os 64 anos é de 1/100.
Só em Portugal, nos últimos 10 anos, contabilizaram-se mais de 12 mil casos de enfartes agudos do miocárdio anualmente. A prevalência desta doença aumenta a partir dos 50 anos nos homens (sendo os mais propícios à doença coronária), e na mulher é mais comum manifestar-se após a menopausa.
Nesse sentido, é importante trabalhar na prevenção da doença cardíaca, assim como na identificação precoce da mesma, evitando o progredir da doença e procurando-se um tratamento eficaz que reduza ou elimine os riscos associados.
14 de fevereiro é o Dia Mundial do Doente Coronário
O que é a doença coronária cardíaca?
A doença coronária cardíaca é toda e qualquer patologia que afete as artérias coronárias. Estas artérias são responsáveis por conduzir o oxigénio às células do coração, desempenhando um papel crucial na saúde cardíaca.
A DAC manifesta-se, geralmente, como angina de peito. No entanto, em casos mais graves e não identificados atempadamente, pode manifestar-se clinicamente como enfarte do miocárdio.
Causas da doença coronária
Analisando-se estatisticamente os casos de doença coronária cardíaca, podemos dizer que a origem das manifestações da doença é, na sua maioria, a aterosclerose arterial. Esta última está muito associada à idade avançada, mas também a outros fatores de risco vascular “major”, como:
Diabetes
Tabagismo
Obesidade
Stress e depressão
Consumo de álcool em excesso
Sedentarismo
Má alimentação
Colesterol elevado
Dislipidemia (nível anormalmente alto de lípidos no sangue).
Por esta razão, a doença coronária está definida como o envolvimento progressivo das artérias coronárias pelo processo aterosclerótico. Ou seja, com o tempo, acumula-se a gordura circulante (ateromas) nas paredes das artérias (médio e grande porte), fazendo com que estas obstruam o fluxo sanguíneo de forma progressiva (prejudicando o nível de oxigénio no músculo cardíaco).
Apesar da maioria dos casos estar associada à aterosclerose, a doença coronária também pode ser provocada por coágulo(s) sanguíneo(s) numa das artérias coronárias, assim como por um espasmo arterial coronariano de uma das artérias coronárias (aumento transitório e focal do tónus vascular, levando a uma obstrução intensa da artéria e reduzindo o fluxo sanguíneo, podendo originar isquemia sintomática – angina variante – formação de trombo, arritmia letal e/ou enfarte).
A disfunção endotelial (alteração do endotélio vascular – camada fina de tecido epitelial que reveste todos os vasos sanguíneos) também deve ser olhada com atenção, uma vez que pode levar a aterosclerose, espasmo arterial coronário epicárdio e angina, consequentemente, doença coronária.
Apesar de raros os casos, também são causa de doença coronária:
Aneurisma – Dilatação anormal das paredes de um vaso sanguíneo, podendo este romper e causar sangramento grave
Embolia – Obstrução da artéria por um corpo estranho anormal, como é o caso de um coágulo sanguíneo, por exemplo
Dissecção espontânea da artéria coronária – Rutura da membrana interna da artéria coronária
Vasculite de artéria coronária – Inflamação da artéria coronária
Quais os sintomas da doença coronária?
Regra geral, o sintoma mais comummente associado à DAC é a dor torácica (retroesternal – no centro do tórax, ou do lado esquerdo, podendo irradiar para o maxilar inferior, ombros, região dorsal ou abdómen superior). Os pacientes descrevem esta dor como uma pressão ou um desconforto no peito, assim como uma sensação de “aperto” e “ardor”.
Angina de peito
Na maior parte dos casos, a doença coronária manifesta-se como angina de peito (dor de duração inferior a 30 minutos que surge, geralmente, associada ao esforço, principalmente em subidas, aliviando com o repouso).
A angina de peito diz respeito a um período em que se desencadeia uma falta de oxigenação das células do miocárdio. Esta é causada pela limitação do fluxo sanguíneo nas artérias cardíacas provocadas pela acumulação de placas de aterosclerose.
Enfarte do miocárdio
Em casos mais graves, a doença cardíaca pode manifestar-se como enfarte do miocárdio (dor semelhante à angina de peito, mais intensa, com duração de seis a 12 horas, podendo alargar-se até 24 horas, mas sem que esta esteja associada ao esforço).
No caso de enfarte do miocárdio, além da dor associada, também podem surgir outros sintomas, como:
Vómitos
Palidez
Mal-estar intenso.
Ao contrário da angina de peito, onde apenas há uma limitação do fluxo sanguíneo, no enfarte de miocárdio temos uma obstrução do fluxo completa, impedindo a oxigenação das células do músculo cardíaco.
Sem oxigenação, as células do miocárdio vão morrendo de forma progressiva, originando a substituição do tecido cardíaco (muscular) por zonas de fibrose, as quais não têm capacidade de contrair.
Por esse motivo, é muito importante que, caso note algum destes sintomas, entre em contacto com o 112 (número de emergência) rapidamente.
Se a suspeita de enfarte se confirmar, é acionado o INEM e a Via Verde Coronária, de forma que o atendimento intra-hospitalar, assim como toda a intervenção pré-hospitalar, seja eficaz e o mais rápido possível.
O ideal é que a desobstrução da artéria seja feita nas primeiras duas horas de dor, para se salvar o maior número de células.
O tabagismo é um fator preditivo forte de enfarte de miocárdio em mulheres, principalmente aquelas com idade inferior a 45 aos. Também contribuem fatores genéticos, doenças sistémicas (como o hipotireoidismo e a hipertensão) e distúrbios de metabolismo.
Outras manifestações
A doença coronária também pode envolver:
Isquemia cardíaca silenciosa (diminuição do fluxo sanguíneo nas artérias, mas sem sintomas, detetável apenas através de exames de rotina)
Angina instável (obstrução aguda de uma das artérias coronárias, mas sem enfarte do miocárdio) – distingue-se a angina de peito da angina instável pela dor mais intensa e duradoura, podendo surgir em repouso e tem natureza progressiva
Quais as complicações da doença coronária?
A doença coronária não tem cura, sendo considerada, portanto, uma doença crónica. No entanto, esta é uma doença controlável, realizando os tratamentos indicados pelo cardiologista e tomando regularmente a medicação prescrita.
Realizar exames regularmente é fundamental para evitar complicações, tais como:
Angina de peito
Enfarte do miocárdio
Arritmias malignas (podendo levar a morte súbita)
Insuficiência cardíaca
Doença arterial periférica (quando se verifica a obstrução das artérias dos membros inferiores)
Acidente vascular cerebral (AVC).
Para os pacientes que sofrem de um enfarte do miocárdio, as complicações podem ser imediatas, como:
Arritmias
Hipoxemia (diminuição dos níveis de oxigénio no sangue)
Choque cardiogénico (descida da tensão arterial)
Edema pulmonar (desenvolvimento e acumulação de fluidos nos pulmões).
Como é feito o diagnóstico da doença coronária?
Um diagnóstico precoce da doença coronária é essencial para se reduzirem riscos de complicações futuras. Nesse sentido, pacientes e médicos devem trabalhar, juntos, na avaliação de sintomas e fatores de risco associados.
Os médicos de família, por serem os profissionais de saúde em contacto constante com os pacientes, e por serem eles responsáveis pela medicina preventiva e diagnóstico precoce, devem avaliar quaisquer sintomas relatados pelos pacientes, assim como avaliar os fatores de risco e a história clínica (individual e familiar).
Mediante suspeita de doença coronária, o médico pode pedir alguns exames para confirmar, ou não, o diagnóstico prévio. Entre eles:
Eletrocardiograma (ECG) com prova de esforço
Ecocardiograma (ECO) de sobrecarga
Angio-TAC coronário
Ressonância magnética cardíaca
Cintigrafia de perfusão do miocárdio
Cateterismo cardíaco com coronariografia.
Qual o tratamento da doença coronária?
Caso o diagnóstico de DAC se confirme, existem diferentes tratamentos possíveis. Estes têm como objetivo estabilizar a doença e evitar a sua progressão, nomeadamente dos fenómenos de arteriosclerose nas coronárias e outros locais arteriais.
Os mais comuns passam por:
Angioplastia coronária com colocação de stent – Procedimento para dilatar a zona obstruída (usando balão/endopróteses expansíveis ou eluição de fármacos) e colocar posteriormente uma prótese metálica cilíndrica expansível com o intuito de evitar reestenose (fenómeno em que se dá o estreitamento do vaso sanguíneo). Os riscos desta cirurgia são quase nulos, sendo a taxa de mortalidade inferior a 1%.
Cirurgia cardíaca de revascularização miocárdica (CRM) – Utiliza artérias e, se necessário, partes de veias autólogas (como a safena, por exemplo) para transpor segmentos das artérias coronárias. É sempre preferível o enxerto de artérias, uma vez que se mantêm desobstruídas por muito mais tempo, enquanto os enxertos venosos são facilmente obstruídos. Este procedimento é preferível em pacientes que sofrem de diabetes, por exemplo. A taxa de mortalidade também é muito baixa, sendo igual ou inferior a 1%.
Hipolipemiantes, como estatinas – Este é um dos fármacos mais usados no tratamento da arteriosclerose, assim como do colesterol elevado.
Anti-agregantes plaquetários – Também usado no tratamento de doença coronária, sendo a aspirina um dos medicamentos mais indicados. Indicados para prevenir a formação de coágulos sanguíneos.
Betabloqueadores – Usados para diminuir os sintomas da angina de peito, diminuindo a frequência cardíaca e reduzindo a necessidade de oxigénio do miocárdio. Em alguns casos, podem ser combinados com bloqueadores dos canais de cálcio.
O tratamento foca, portanto, na redução imediata da carga de trabalho cardíaca, fazendo com que não seja necessária tanta quantidade de oxigénio e, ao mesmo tempo, melhorando o fluxo sanguíneo da artéria coronária. No longo prazo, o tratamento pretende interromper e, quando possível, reverter o processo de aterosclerose.
Como prevenir a doença coronária?
A doença coronária pode ser prevenida reduzindo, ao máximo, os fatores de risco. Assim, as orientações médicas são para que se controlem esses fatores, como:
Tratar a hipertensão
Controlar diabetes
Deixar de fumar
Não beber álcool em excesso
Ter uma vida ativa, praticando exercício físico regularmente
Fazer uma alimentação saudável, rica em frutas e vegetais e com poucas porções de alimentos gordos, como queijos, bolos e carnes vermelhas
Reduzir o consumo de sal
Fazer UM check up médico regular.
Estas atitudes vão manter as artérias mais saudáveis e fortes, evitando obstrução das mesmas e assegurando que o miocárdio recebe o oxigénio suficiente para o seu bom funcionamento.
O uso de medicamentos anti-hipertensivos tem sido recomendado para pacientes de baixo risco de doença cardiovascular aterosclerótica (DCVA) com pressão arterial superior a 140/90. Para pacientes com risco de DCVA superior a 10%, recomenda-se o uso de medicamentos anti-hipertensivos quando a pressão arterial é superior a 130/80.
Em alguns casos, pode ser recomendada a toma de estatinas para modificar os níveis de lipídios séricos e, assim, diminuir ou reverter a progressão de doença coronária. É especialmente indicada para pacientes com sinais e sintomas clínicos de DCVA, pacientes com LDL igual ou superior a 190 mg/dL, pacientes entre os 40 e os 75 anos de idade com diabetes e níveis de LDL de 70 a 189 mg/dL e para pacientes entre os 40 e os 75 anos de idade sem diabetes, mas com risco de DCVA superior a 7,5% e com colesterol LDL de 70 a 189 mg/dL.
Sabendo que a doença coronária tem uma alta taxa de morbimortalidade, a prevenção deve ser a palavra de ordem. Adquirir hábitos de vida saudáveis e ter consultas regulares com o seu médico de família é fundamental para manter a saúde do seu coração.