O que é a doença coronária? Causas, sintomas e tratamento

O que é a doença coronária? Causas, sintomas e tratamento

Sara Paiva
Sara Paiva |  
Apoio domiciliário |  13 fevereiro 2024 |  
14 min. de leitura
doença coronária

A doença coronária afeta milhões de pessoas em todo o mundo e, por ter uma elevada taxa de mortalidade e morbilidade, deve ser olhada com especial atenção. Por atingir as artérias coronárias, esta doença pode levar a enfartes do miocárdio ou anginas de peito, por exemplo.

Nos países desenvolvidos, a doença arterial coronariana (DAC) é a causa número um de morte, tanto para homens, como para mulheres, totalizando cerca de um terço dos óbitos. A taxa de mortalidade em homens brancos entre os 25 e 34 anos é de, aproximadamente, 1/10.000 e entre os 55 e os 64 anos é de 1/100.

Só em Portugal, nos últimos 10 anos, contabilizaram-se mais de 12 mil casos de enfartes agudos do miocárdio anualmente. A prevalência desta doença aumenta a partir dos 50 anos nos homens (sendo os mais propícios à doença coronária), e na mulher é mais comum manifestar-se após a menopausa.

Nesse sentido, é importante trabalhar na prevenção da doença cardíaca, assim como na identificação precoce da mesma, evitando o progredir da doença e procurando-se um tratamento eficaz que reduza ou elimine os riscos associados.

14 de fevereiro é o Dia Mundial do Doente Coronário

O que é a doença coronária cardíaca?

A doença coronária cardíaca é toda e qualquer patologia que afete as artérias coronárias. Estas artérias são responsáveis por conduzir o oxigénio às células do coração, desempenhando um papel crucial na saúde cardíaca.

A DAC manifesta-se, geralmente, como angina de peito. No entanto, em casos mais graves e não identificados atempadamente, pode manifestar-se clinicamente como enfarte do miocárdio.

Causas da doença coronária

Analisando-se estatisticamente os casos de doença coronária cardíaca, podemos dizer que a origem das manifestações da doença é, na sua maioria, a aterosclerose arterial. Esta última está muito associada à idade avançada, mas também a outros fatores de risco vascular “major”, como:

  • Diabetes

  • Tabagismo

  • Hipertensão

  • Obesidade

  • Stress e depressão

  • Consumo de álcool em excesso

  • Sedentarismo

  • Má alimentação

  • Colesterol elevado

  • Dislipidemia (nível anormalmente alto de lípidos no sangue).

Por esta razão, a doença coronária está definida como o envolvimento progressivo das artérias coronárias pelo processo aterosclerótico. Ou seja, com o tempo, acumula-se a gordura circulante (ateromas) nas paredes das artérias (médio e grande porte), fazendo com que estas obstruam o fluxo sanguíneo de forma progressiva (prejudicando o nível de oxigénio no músculo cardíaco).

Apesar da maioria dos casos estar associada à aterosclerose, a doença coronária também pode ser provocada por coágulo(s) sanguíneo(s) numa das artérias coronárias, assim como por um espasmo arterial coronariano de uma das artérias coronárias (aumento transitório e focal do tónus vascular, levando a uma obstrução intensa da artéria e reduzindo o fluxo sanguíneo, podendo originar isquemia sintomática – angina variante – formação de trombo, arritmia letal e/ou enfarte).

A disfunção endotelial (alteração do endotélio vascular – camada fina de tecido epitelial que reveste todos os vasos sanguíneos) também deve ser olhada com atenção, uma vez que pode levar a aterosclerose, espasmo arterial coronário epicárdio e angina, consequentemente, doença coronária.

Apesar de raros os casos, também são causa de doença coronária:

  • Aneurisma – Dilatação anormal das paredes de um vaso sanguíneo, podendo este romper e causar sangramento grave

  • Embolia – Obstrução da artéria por um corpo estranho anormal, como é o caso de um coágulo sanguíneo, por exemplo

  • Dissecção espontânea da artéria coronária – Rutura da membrana interna da artéria coronária

  • Vasculite de artéria coronária – Inflamação da artéria coronária

Quais os sintomas da doença coronária?

Regra geral, o sintoma mais comummente associado à DAC é a dor torácica (retroesternal – no centro do tórax, ou do lado esquerdo, podendo irradiar para o maxilar inferior, ombros, região dorsal ou abdómen superior). Os pacientes descrevem esta dor como uma pressão ou um desconforto no peito, assim como uma sensação de “aperto” e “ardor”.

Angina de peito

Na maior parte dos casos, a doença coronária manifesta-se como angina de peito (dor de duração inferior a 30 minutos que surge, geralmente, associada ao esforço, principalmente em subidas, aliviando com o repouso).

A angina de peito diz respeito a um período em que se desencadeia uma falta de oxigenação das células do miocárdio. Esta é causada pela limitação do fluxo sanguíneo nas artérias cardíacas provocadas pela acumulação de placas de aterosclerose.

Enfarte do miocárdio

Em casos mais graves, a doença cardíaca pode manifestar-se como enfarte do miocárdio (dor semelhante à angina de peito, mais intensa, com duração de seis a 12 horas, podendo alargar-se até 24 horas, mas sem que esta esteja associada ao esforço).

No caso de enfarte do miocárdio, além da dor associada, também podem surgir outros sintomas, como:

  • Vómitos

  • Palidez

  • Mal-estar intenso.

Ao contrário da angina de peito, onde apenas há uma limitação do fluxo sanguíneo, no enfarte de miocárdio temos uma obstrução do fluxo completa, impedindo a oxigenação das células do músculo cardíaco.

Sem oxigenação, as células do miocárdio vão morrendo de forma progressiva, originando a substituição do tecido cardíaco (muscular) por zonas de fibrose, as quais não têm capacidade de contrair.

Por esse motivo, é muito importante que, caso note algum destes sintomas, entre em contacto com o 112 (número de emergência) rapidamente.

Se a suspeita de enfarte se confirmar, é acionado o INEM e a Via Verde Coronária, de forma que o atendimento intra-hospitalar, assim como toda a intervenção pré-hospitalar, seja eficaz e o mais rápido possível.

O ideal é que a desobstrução da artéria seja feita nas primeiras duas horas de dor, para se salvar o maior número de células.

O tabagismo é um fator preditivo forte de enfarte de miocárdio em mulheres, principalmente aquelas com idade inferior a 45 aos. Também contribuem fatores genéticos, doenças sistémicas (como o hipotireoidismo e a hipertensão) e distúrbios de metabolismo.

Outras manifestações

A doença coronária também pode envolver:

  • Isquemia cardíaca silenciosa (diminuição do fluxo sanguíneo nas artérias, mas sem sintomas, detetável apenas através de exames de rotina)

  • Angina instável (obstrução aguda de uma das artérias coronárias, mas sem enfarte do miocárdio) – distingue-se a angina de peito da angina instável pela dor mais intensa e duradoura, podendo surgir em repouso e tem natureza progressiva

Quais as complicações da doença coronária?

A doença coronária não tem cura, sendo considerada, portanto, uma doença crónica. No entanto, esta é uma doença controlável, realizando os tratamentos indicados pelo cardiologista e tomando regularmente a medicação prescrita.

Realizar exames regularmente é fundamental para evitar complicações, tais como:

  • Angina de peito

  • Enfarte do miocárdio

  • Arritmias malignas (podendo levar a morte súbita)

  • Insuficiência cardíaca

  • Doença arterial periférica (quando se verifica a obstrução das artérias dos membros inferiores)

  • Acidente vascular cerebral (AVC).

Para os pacientes que sofrem de um enfarte do miocárdio, as complicações podem ser imediatas, como:

  • Arritmias

  • Hipoxemia (diminuição dos níveis de oxigénio no sangue)

  • Choque cardiogénico (descida da tensão arterial)

  • Edema pulmonar (desenvolvimento e acumulação de fluidos nos pulmões).

Como é feito o diagnóstico da doença coronária?

Um diagnóstico precoce da doença coronária é essencial para se reduzirem riscos de complicações futuras. Nesse sentido, pacientes e médicos devem trabalhar, juntos, na avaliação de sintomas e fatores de risco associados.

Os médicos de família, por serem os profissionais de saúde em contacto constante com os pacientes, e por serem eles responsáveis pela medicina preventiva e diagnóstico precoce, devem avaliar quaisquer sintomas relatados pelos pacientes, assim como avaliar os fatores de risco e a história clínica (individual e familiar).

Mediante suspeita de doença coronária, o médico pode pedir alguns exames para confirmar, ou não, o diagnóstico prévio. Entre eles:

  • Eletrocardiograma (ECG) com prova de esforço

  • Ecocardiograma (ECO) de sobrecarga

  • Angio-TAC coronário

  • Ressonância magnética cardíaca

  • Cintigrafia de perfusão do miocárdio

  • Cateterismo cardíaco com coronariografia.

Qual o tratamento da doença coronária?

Caso o diagnóstico de DAC se confirme, existem diferentes tratamentos possíveis. Estes têm como objetivo estabilizar a doença e evitar a sua progressão, nomeadamente dos fenómenos de arteriosclerose nas coronárias e outros locais arteriais.

Os mais comuns passam por:

  • Angioplastia coronária com colocação de stent – Procedimento para dilatar a zona obstruída (usando balão/endopróteses expansíveis ou eluição de fármacos) e colocar posteriormente uma prótese metálica cilíndrica expansível com o intuito de evitar reestenose (fenómeno em que se dá o estreitamento do vaso sanguíneo). Os riscos desta cirurgia são quase nulos, sendo a taxa de mortalidade inferior a 1%.

  • Cirurgia cardíaca de revascularização miocárdica (CRM) – Utiliza artérias e, se necessário, partes de veias autólogas (como a safena, por exemplo) para transpor segmentos das artérias coronárias. É sempre preferível o enxerto de artérias, uma vez que se mantêm desobstruídas por muito mais tempo, enquanto os enxertos venosos são facilmente obstruídos. Este procedimento é preferível em pacientes que sofrem de diabetes, por exemplo. A taxa de mortalidade também é muito baixa, sendo igual ou inferior a 1%.

  • Hipolipemiantes, como estatinas – Este é um dos fármacos mais usados no tratamento da arteriosclerose, assim como do colesterol elevado.

  • Anti-agregantes plaquetários – Também usado no tratamento de doença coronária, sendo a aspirina um dos medicamentos mais indicados. Indicados para prevenir a formação de coágulos sanguíneos.

  • Betabloqueadores – Usados para diminuir os sintomas da angina de peito, diminuindo a frequência cardíaca e reduzindo a necessidade de oxigénio do miocárdio. Em alguns casos, podem ser combinados com bloqueadores dos canais de cálcio.

O tratamento foca, portanto, na redução imediata da carga de trabalho cardíaca, fazendo com que não seja necessária tanta quantidade de oxigénio e, ao mesmo tempo, melhorando o fluxo sanguíneo da artéria coronária. No longo prazo, o tratamento pretende interromper e, quando possível, reverter o processo de aterosclerose.

Como prevenir a doença coronária?

A doença coronária pode ser prevenida reduzindo, ao máximo, os fatores de risco. Assim, as orientações médicas são para que se controlem esses fatores, como:

  • Tratar a hipertensão

  • Controlar diabetes

  • Deixar de fumar

  • Não beber álcool em excesso

  • Ter uma vida ativa, praticando exercício físico regularmente

  • Fazer uma alimentação saudável, rica em frutas e vegetais e com poucas porções de alimentos gordos, como queijos, bolos e carnes vermelhas

  • Reduzir o consumo de sal

  • Fazer UM check up médico regular.

Estas atitudes vão manter as artérias mais saudáveis e fortes, evitando obstrução das mesmas e assegurando que o miocárdio recebe o oxigénio suficiente para o seu bom funcionamento.

O uso de medicamentos anti-hipertensivos tem sido recomendado para pacientes de baixo risco de doença cardiovascular aterosclerótica (DCVA) com pressão arterial superior a 140/90. Para pacientes com risco de DCVA superior a 10%, recomenda-se o uso de medicamentos anti-hipertensivos quando a pressão arterial é superior a 130/80.

Em alguns casos, pode ser recomendada a toma de estatinas para modificar os níveis de lipídios séricos e, assim, diminuir ou reverter a progressão de doença coronária. É especialmente indicada para pacientes com sinais e sintomas clínicos de DCVA, pacientes com LDL igual ou superior a 190 mg/dL, pacientes entre os 40 e os 75 anos de idade com diabetes e níveis de LDL de 70 a 189 mg/dL e para pacientes entre os 40 e os 75 anos de idade sem diabetes, mas com risco de DCVA superior a 7,5% e com colesterol LDL de 70 a 189 mg/dL.

Sabendo que a doença coronária tem uma alta taxa de morbimortalidade, a prevenção deve ser a palavra de ordem. Adquirir hábitos de vida saudáveis e ter consultas regulares com o seu médico de família é fundamental para manter a saúde do seu coração.

Sara Paiva
Socióloga de formação, Copywriter de paixão. Sou uma apaixonada por literatura (e pelas artes em geral), o que me levou a seguir uma carreira na área da escrita. Desenvolvo conteúdos para o Toma Conta com o objetivo de ajudar os utilizadores a obterem a melhor informação possível.

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Escrevo conteúdos para a web há mais de 20 anos como jornalista e copywriter. Adoro explorar montes e vales por esse país fora. Detesto fazer mudanças e adoro correr à beira-mar. Tenho veia de poeta, sou mãe e uma verdadeira mulher dos sete ofícios!

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