Apneia do sono: o que é, quais os sintomas e tratamento?

Apneia do sono: o que é, quais os sintomas e tratamento?

Sara Paiva
Sara Paiva |  
Apoio domiciliário |  16 janeiro 2025 |  
17 min. de leitura
mulher deitada, com as mãos sobre os olhos, enquanto homem com apneia do sono dorme ao seu lado

A apneia do sono é uma doença com consequências para a saúde a longo prazo e afeta entre 9 e 24% dos adultos e 2% de crianças. O ressonar é apenas um dos sintomas (geralmente o primeiro a ser detetado), sendo que 80% das pessoas que ressonam tem apneia obstrutiva do sono (SAOS).

90% das pessoas com síndrome de apneia do sono ressona.

Sonolência durante o dia, roncos altos durante a noite, episódios de asfixia, respiração ofegante, despertares súbitos com engasgos e interrupções na respiração são sinais de alerta a que deve estar atento.

A apneia do sono é responsável por mais de 100 mil acidentes de viação por ano (pessoas com esta patologia ficam muito sonolentas, mesmo durante o dia).

Esta patologia aumenta o risco de certos distúrbios, além de aumentar o risco de morte prematura. Por isso, se apresenta sintomas de apneia do sono, procure um profissional de saúde que possa fazer o diagnóstico correto e prescrever o tratamento adequado.

O que é apneia do sono?

A apneia do sono é um distúrbio que faz com que a respiração durante o sono seja interrompida várias vezes. Apesar de ser muito comum, esta condição crónica compromete a qualidade do sono, assim como pode aumentar o risco de desenvolvimento de outros problemas de saúde, como hipertensão, insuficiência cardíaca, arritmia cardíaca, problemas cardiovasculares, diabetes e problemas de concentração e de memória.

Estima-se que um milhão de portugueses sofra de síndrome de apneia do sono.

A síndrome de apneia obstrutiva do sono (SAOS) é o tipo de apneia mais comum. Este caracteriza-se por um bloqueio das vias respiratórias, breve, mas frequente, que leva a interrupções da respiração (totais — apneias — ou parciais — hipopneias) durante o sono. Este bloqueio acontece porque há um relaxamento excessivo dos músculos da via aérea superior (faringe), estreitamento e alterações da anatomia do pescoço, mandíbula ou nariz.

Tratando-se de paragens respiratórias, dá-se, portanto, uma diminuição da oxigenação do sangue. Além disso, ocorrem pequenos despertares não conscientes, os quais não permitem um repouso eficiente do cérebro.

Adultos com obesidade e crianças com hipertrofia das amígdalas e adenoides são o grupo de maior risco de desenvolvimento desta condição.

Tipos de apneia

Existem três principais tipos de apneia do sono, sendo que a SAOS é a mais comum, já descrita anteriormente. Os outros dois tipos são:

  • Apneia central do sono — Este tipo desenvolve-se, regra geral, depois de alguma doença que origina uma lesão cerebral que altere a capacidade de regular a respiração durante o sono, como tumores cerebrais, doenças degenerativas do cérebro ou AVC. O uso de opioides e outros medicamentos também pode estar na origem da apneia central do sono, assim como estar em altitudes elevadas;

  • Apneia mista — Este é o tipo mais raro e é provocado pela presença de SAOS e apneia central do sono.

A apneia também pode ter um caráter temporário, podendo ser causada por tumores ou pólipos ou por uma inflamação das amígdalas, por exemplo.

Para se considerar que uma pessoa sofre de apneia do sono, esta tem de apresentar:

  • Interrupção da respiração durante o sono;

  • Cinco, ou mais, interrupções respiratórias por hora;

  • Cada interrupção tem uma duração superior a dez segundos.

Apneia do sono: causas e consequências

A obesidade é, sem dúvida, um dos fatores de maior risco de desenvolvimento de apneia do sono entre a população adulta, uma vez que se dá um estreitamento das vias aéreas superiores.

No entanto, existem outras causas que podem estar associadas a esta síndrome, entre elas:

  • Garganta estreita;

  • Pescoço grosso;

  • Língua grande;

  • Idade (mais comum em pessoas acima dos 50 anos);

  • Hipotireoidismo;

  • Congestão nasal;

  • Doença do refluxo gastroesofágico;

  • Acromegalia (crescimento excessivo e anormal devido à produção excessiva da hormona do crescimento);

  • Casos de apneia na família (esta patologia tende a ser hereditária).

O consumo de álcool em excesso, tabagismo e o uso de sedativos podem agravar os quadros de apneia obstrutiva do sono.

A apneia do sono pode acarretar outros problemas, entre os quais destacamos:

  • Maior probabilidade de acidentes (de viação e laborais) — O risco é de, aproximadamente, sete vezes superior ao da população em geral;

  • Hipertensão arterial — Pessoas com a síndrome de apneia do sono apresentam, muitas vezes, hipertensão de controlo difícil;

  • Angina de peito;

  • Enfarte agudo do miocárdio;

  • Arritmias;

  • Insuficiência cardíaca;

  • AVC;

  • Diabetes;

  • Morte súbita;

  • Menor produtividade;

  • Deterioração intelectual;

  • Dificuldades de atenção, raciocínio e memória;

  • Maior probabilidade de ter problemas conjugais e familiares (não só pelo ressonar, mas também por ter mais alterações do humor e por possíveis perturbações sexuais, como impotência).

Apneia do sono: sintomas em adultos

Na maior parte dos casos, os sintomas da apneia obstrutiva do sono são notados pela pessoa que dorme na mesma cama ou que more na mesma casa.

Independentemente do tipo de apneia, o paciente apresenta respiração mais lenta do que o normal e superficial, ou paragem respiratória temporária durante o sono.

Outros sintomas podem ser notados pelos pacientes durante o dia, entre eles:

  • Sonolência diurna;

  • Cefaleias matinais;

  • Dor de garganta e boca seca ao acordar;

  • Fadiga;

  • Despertar com engasgos ou sensação de que está sufocado;

  • Despertar durante a noite várias vezes;

  • Vontade de urinar durante a noite;

  • Depressão;

  • Irritabilidade;

  • Dificuldades de concentração;

  • Lentidão de pensamento;

  • Falta de desejo sexual;

  • Disfunção sexual.

Sintomas da apneia central do sono

O ressonar na apneia central do sono não é tão proeminente quanto na SAOS. Este tipo de apneia é mais marcado pelo ritmo irregular e interrompido da respiração.

Pacientes com este tipo de apneia podem apresentar dificuldades em permanecer a dormir e podem acordar cedo.  

Um dos tipos de apneia central é a respiração de Cheyne-Stokes. Esta caracteriza-se por uma respiração que fica mais rápida, gradualmente, depois pára por um período curto, e depois recomeça gradualmente a ficar mais rápida, repetindo-se o ciclo.

Sintomas em crianças

Embora pouco comum em crianças, é possível que algumas desenvolvam apneia do sono, nomeadamente em alguns quadros dentários (sobremordida grave, por exemplo), amígdalas ou adenoides aumentados, deficiências congénitas (como maxilar inferior mais pequeno do que o normal) e obesidade.

Além do ressonar, sintomas comuns em crianças são:

  • Sono agitado;

  • Suores noturnos;

  • Falta de controlo da micção durante a noite;

  • Respiração pela boca durante o dia;

  • Cefaleia matinal;

  • Problemas de concentração;

  • Problemas de aprendizagem e comportamentais (hiperatividade, por exemplo);

  • Atrasos de crescimento.

Diagnóstico

O diagnóstico de apneia do sono é feito através de uma avaliação médica, assim como de exames complementares endoscópicos e estudo polissonográfico do sono noturno.

Algumas vezes, o médico aplica questionários para detetar sintomas que possam passar despercebidos ao doente.

Confirma-se o diagnóstico e a gravidade através da monitorização da respiração do paciente durante o sono.

Regra geral, faz-se uma primeira monitorização em casa, com recurso a um aparelho portátil que o paciente usa à noite e que regista a respiração, o fluxo de ar pelo nariz, a frequência cardíaca e os níveis de oxigénio.

O médico pode pedir uma polissonografia, por ser um exame mais completo. Neste, o paciente passa a noite na clínica/hospital, onde se faz o monitoramento do sono completo:

  • Eletroencefalograma (monitora as ondas cerebrais para detetar alterações nos níveis de sono e movimentos dos olhos);

  • Oximetria (medir o nível de oxigénio no sangue);

  • Medição de fluxo de ar com dispositivos próprios colocados à frente das narinas e da boca;

  • Medição dos movimento e padrão respiratórios com um monitor instalado à volta do peito.

Apneia do sono: tratamento

A correção dos fatores de risco é sempre a primeira medida a ser tomada para tratar a apneia obstrutiva do sono.

Assim, deve combater-se a obesidade, deixar de beber álcool (especialmente à noite), deixar de fumar e tratar o refluxo gastroesofágico, infeções e alergias respiratórias, hipotireoidismo e acromegalia (no caso de existirem). Podem ser suspensos alguns medicamentos e incentiva-se a não dormir na posição de decúbito dorsal (barriga para cima).

Além da correção de atitudes prejudiciais, o médico pode recomendar a pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP). Este é o tratamento estandardizado para a SAOS, especialmente para os pacientes que sentem sonolência diurna excessiva. Consiste no uso de usa máscara facial ou nasal, conectada a um dispositivo que fornece uma pressão maior nas vias aéreas, favorecendo a abertura da garganta conforme se respira.

A CPAP pode ter, ou não, humidificação do ar. Alguns pacientes consideram o ar humidificado mais confortável.

É essencial que os pacientes a usarem CPAP sejam acompanhados durante as primeiras duas semanas.

Alguns pacientes não conseguem usar a CPAP. Nestes casos, o médico pode optar por aparelhos orais removíveis. Estes são feitos por dentistas e podem aliviar a SAOS leve e/ou moderada. A maioria dos aparelhos consiste em duas peças de plástico, as quais são moldadas ao formato dos dentes. Estas peças puxam a mandíbula para a frente, impedindo que a língua se mova para trás e bloqueie a garganta.

Pacientes com SAOS moderada ou grave que não toleram a terapia por CPAP podem recorrer a estimulação das vias aéreas superiores através de um dispositivo elétrico que ativa o nervo hipoglosso (responsável por controlar a língua). Ao estimular este nervo, os músculos que empurram a língua para a frente são ativados, ajudando a desobstruir as vias aéreas.

Para os pacientes que têm aumento das amígdalas ou obstrução óbvia das vias aéreas por outra estrutura, é recomendada a cirurgia de cabeça ou pescoço.

Pessoas com SAOS leve podem beneficiar de uvulopalatofaringoplastia, um procedimento cirúrgico que abre as vias aéreas superiores ao remover tecido da região (palato, amígdalas, úvula ou adenoides). No entanto, por ser um procedimento agressivo, outras abordagens têm sido preferidas, como a estabilização das paredes da faringe.

Em último recurso é feita a traqueostomia (abertura na traqueia com inserção de um tubo para respiração).

Tratamento de SAOS em crianças

Em crianças, e sabendo que a maior parte dos casos de SAOS é causada por amígdalas ou adenoides aumentados, o tratamento mais comum é a cirurgia para remoção das amígdalas e adenoides.

Tratamento da apneia central do sono

No caso da apneia central do sono, sempre que possível, trata-se a doença que está subjacente. Além disso, os pacientes são encorajados a deixar de consumir bebidas alcoólicas. Pode suspender-se medicação que piore a apneia.

A administração de oxigénio através de uma cânula nasal também pode ajudar a reduzir os episódios de apneia, especialmente em pacientes com níveis de oxigénio no sangue baixos durante o sono.

Alguns pacientes também podem ter benefícios com baixos níveis de CPAP. Pode ser especialmente útil para quem sofre de apneia central do tipo Cheyne-Stokes.

A acetazolamida pode ser receitada a pacientes com apneia central do sono causada por altitudes elevadas e a pacientes com insuficiência cardíaca.

Em alguns casos é feito um procedimento para implantar um dispositivo estimulador dos nervos que controlam o diafragma.

Como prevenir?

A única forma de prevenir a apneia do sono é adotando um estilo de vida saudável. Manter uma dieta equilibrada e praticar exercício físico regular é essencial para manter-se num peso ideal (lembrando que a obesidade é um dos fatores de maior risco para o desenvolvimento de SAOS).

Deve, também:

  • Evitar o consumo de bebidas alcoólicas;

  • Deixar de fumar;

  • Evitar o consumo de estimulantes;

  • Adotar medidas de higiene do sono (ter um horário regular para acordar e adormecer, dormir um número de horas adequado, dormir em posição lateral);

  • Evitar o uso de medicamentos para dormir, principalmente aqueles com efeito de relaxante muscular.

Perguntas frequentes

Pode-se morrer de apneia do sono?

A apneia do sono pode ser fatal, quando não tratada e nos casos mais graves. Também se torna perigosa em pessoas que têm problemas pulmonares e/ou cardíacos, uma vez que aumenta o risco de enfarte, AVC, hipertensão e acidentes de viação, por exemplo.

Apneia do sono tem cura?

Em alguns casos. Quando se consegue tratar as condições que obstruem as vias aéreas, é possível curar (são exemplos os casos em que a apneia se deve a obesidade, alergias, uso de sedativos, consumo de álcool em excesso e hipertrofia de amígdalas e adenoides).

Ansiedade pode causar apneia do sono?

É possível que a apneia do sono e a ansiedade tenham uma relação forte. A SAOS desregula as taxas hormonais e faz com que se libertem hormonas que contribuem para a ansiedade, como o cortisol. O aumento de cortisol com frequência afeta o sistema imunológico, aumenta a morte celular e a de neurónios.  Pessoas com apneia grave também podem apresentar insónias e depressão.

Como é feito o exame de apneia do sono?

A polissonografia é chamada, também, de exame do sono.

Este exame diagnostica distúrbios durante o sono (apneia, narcolepsia — episódios incontroláveis de sono durante o dia —, transtornos convulsivos causados pelo sono, perturbações musculares, parassónias — distúrbios graves que podem causar sonambulismo e despertares com confusão mental —, quadros recorrentes e graves de insónia), mas também avalia a qualidade do sono, e é realizado em clínicas especializadas ou em hospitais, sob monitorização de técnicos.

Durante o exame, é colocado um sensor no nariz, o qual mede o fluxo de ar, outro sensor no dedo, que mede a quantidade de oxigénio no sangue, também são postos sensores no rosto e no couro cabeludo (responsáveis por medir o movimento dos olhos e a atividade cerebral) e outros num cinto elástico em volta do peito e da barriga (medição do esforço necessário para respirar). Aos sensores estão ligados fios que transmitem os dados para um computador, monitorizados por um técnico que permanece numa sala próxima.

Este exame vai monitorizar várias informações enquanto os pacientes dormem, entre elas: funções cerebrais, níveis de saturação de oxigénio, fluxo de ar na garganta, movimentos oculares, atividades musculares, movimentação do tórax e ritmo cardíaco.

Em alguns casos, podem ser feitos registos em vídeo para uma avaliação mais completa.

Recomendações para antes do exame:

  • Evite o consumo de álcool e cafeína no dia do exame;

  • Evite dormir durante a tarde;

  • Converse com o médico sobre a toma de medicação recorrente (em alguns casos, pode ser recomendada a suspensão da toma durante o período perto do exame).

Sara Paiva
Socióloga de formação, Copywriter de paixão. Sou uma apaixonada por literatura (e pelas artes em geral), o que me levou a seguir uma carreira na área da escrita. Desenvolvo conteúdos para o Toma Conta com o objetivo de ajudar os utilizadores a obterem a melhor informação possível.

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Susana Valente

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Escrevo conteúdos para a web há mais de 20 anos como jornalista e copywriter. Adoro explorar montes e vales por esse país fora. Detesto fazer mudanças e adoro correr à beira-mar. Tenho veia de poeta, sou mãe e uma verdadeira mulher dos sete ofícios!

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