A afasia é um distúrbio da comunicação, geralmente causado por um acidente vascular cerebral (AVC), que prejudica a capacidade de processamento da linguagem, mas sem afetar a inteligência.
Embora mais comum em pessoas idosas, esta patologia pode ocorrer em qualquer idade. Identificar o problema é essencial para começar o tratamento, até porque este tende a ser um fator de isolamento social e familiar.
Estima-se que, em Portugal, cerca de 50% dos sobreviventes de um AVC apresenta dificuldades de comunicação (embora não haja dados sobre a incidência de afasia).
O que é afasia?
A afasia é um distúrbio da comunicação que é adquirido, o qual interfere na capacidade de processamento da linguagem. Embora não afete a inteligência, este distúrbio pode comprometer a leitura e a escrita, além de prejudicar a fala e a compreensão de outras pessoas.
Também conhecida como afasia da fala, esta é uma das sequelas mais comuns e incapacitantes de um AVC (entre 25 e 40% das pessoas com AVC têm este distúrbio). Pessoas com afasia têm, na maioria das vezes, de fazer adaptações radicais na sua vida, podendo mesmo levar a distúrbios emocionais graves.
Pela incapacidade de comunicação eficaz, este transtorno pode causar um impacto muito grande na noção de identidade, autoestima, além de prejudicar relações interpessoais e sociais. Por isso, estes pacientes podem desenvolver depressão.
A juntar à dificuldade na linguagem, pessoas com afasia podem ter dificuldades de concentração, memória, na observação do que se passa ao redor e pode, ainda, levar a uma incapacidade para fazer duas coisas ao mesmo tempo.
A gravidade e extensão da afasia dependem da localização e da magnitude da lesão no cérebro, mas também têm influência a personalidade do paciente e a sua competência linguística anterior.
Alguns pacientes com este transtorno podem entender a linguagem, mas apresentam dificuldades em encontrar as palavras corretas, assim como na construção de frases. Outros falam em demasia, mas a compreensão do que dizem é difícil.
Causas
A afasia dá-se como resultado de uma lesão cerebral. A causa mais comum é o AVC, mas existem outras origens para o transtorno, como os traumatismos crânio-encefálicos, problemas neurológicos, infeções no cérebro e tumores cerebrais.
Todas as patologias mencionadas afetam o cérebro, mas nem sempre causam afasia, uma vez que podem afetar outras partes cerebrais que não englobem as regiões responsáveis pela linguagem.
Tipos de afasia
Existem dois principais tipos de afasia: recetiva (de Wernicke) e expressiva (de Broca).
O primeiro tipo diz respeito a afasia causada por lesão cerebral na área de Wernicke, dificultando a compreensão da linguagem e da escrita. O segundo tipo ocorre quando a área lesionada é a de Broca, que leva os pacientes a terem dificuldade em encontrar as palavras ao falar, embora entendam o significado das mesmas e saibam como querem responder.
Afasia recetiva (de Wernicke)
Pessoas com afasia de Wernicke falam fluentemente, com ritmo e cadência naturais, mas as frases são formuladas com palavras confusas. É possível que elas não saibam que estão a dizer palavras sem sentido naquele contexto.
Também, neste tipo de afasia, os pacientes são incapazes de ler palavras. Escrevem tal qual falam, de forma incompreensiva, apesar de fluente.
Afasia expressiva (de Broca)
Pacientes com afasia de Broca já apresentam dificuldades em articular palavras, dizendo-as muito lentamente e com esforço. Não conseguem manter um ritmo constante e normal, assim como dar ênfase adequada à linguagem ou repetir frases.
No entanto, ao contrário dos primeiros, tudo o que dizem faz sentido, mesmo quando, ao falar, interrompam por imprecações.
É comum que pessoas com este tipo de afasia não consigam escrever.
Sintomas de afasia
A afasia denota-se sempre na capacidade de comunicação, embora outros sintomas possam aparecer. Enquanto algumas pessoas apresentam dificuldades em falar, outras não conseguem seguir uma conversa com eficiência.
Alguns pacientes têm sintomas ligeiros e pode não ser percetível num primeiro contacto. Outros têm sintomas muito severos, afetando fala, compreensão, leitura e escrita.
Além do prejuízo na comunicação, os pacientes podem apresentar:
Dificuldade em recordar palavras e nomes (anomia);
Dificuldade em aceder a ideias e pensamentos (mas sem prejuízo na elaboração dos mesmos);
Paralisia ou fraqueza nos membros superior e inferior direitos;
Perda de campo visual;
Dificuldade em memorizar;
Desconhecimento de como fazer sequências de ações simples, como comer e beber;
Dificuldade em controlar emoções;
Perda da capacidade de compreender palavras escritas (alexia);
Epilepsia.
Diagnóstico
O diagnóstico de afasia é feito por um médico através de quatro provas: análise ao discurso, repetição de palavras, compreensão de ordens simples e nomeação de objetos por conforto visual.
Além do diagnóstico, é importante que se faça uma ressonância magnética para identificar a lesão cerebral (saber o local e a extensão da lesão cerebral).
Tratamento indicado para a afasia
O tratamento indicado para os pacientes com afasia é a terapia da fala, uma vez que o objetivo é que a comunicação se torne funcional. A duração do tratamento vai depender muito da extensão da lesão, mas também da resposta do paciente à terapia.
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É importante que a comunicação seja feita com contacto visual constante, falando devagar e, preferencialmente, com frases curtas, deixando claro um reforço das palavras-chave. Apontar, fazer gestos e desenhos pode ajudar na comunicação, especialmente numa fase inicial.
Começar a terapia o mais cedo possível é crucial para uma recuperação completa, uma vez que, se os sintomas durarem mais de dois ou três meses após ter ocorrido a lesão, será muito menos provável uma recuperação total.
Muitos pacientes continuam a ter progressos após anos/décadas da lesão.
A afasia tem cura?
Não existe cura definitiva para a afasia, mas há boas hipóteses de recuperação, especialmente se tratada desde o início dos sintomas.
Como prevenir?
A causa mais comum para a afasia é o AVC. Por isso, a melhor forma de prevenir é reduzindo o risco de ocorrência do acidente vascular cerebral. Assim, as melhores medidas preventivas são:
Fazer exercício físico regularmente;
Manter uma alimentação saudável e equilibrada, rica em fruta e vegetais;
Ingerir alimentos com pouca gordura;
Reduzir ao consumo de sal;
Deixar de fumar;
Não beber álcool em excesso;
Manter um peso adequado;
Controlar a pressão arterial;
Tratar doenças associadas ao colesterol elevado e diabetes.
É importante que a família, assim como todas as pessoas que convivem com pacientes com afasia, seja compreensiva e tolerante. Embora a comunicação seja difícil, principalmente no início e em casos em que a recuperação é difícil, familiares devem procurar alternativas para que os afásicos não se sintam um peso nas suas vidas.